Jewish-Christian Relations

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  • Maria - Filha Sião? Mariologia, Devoção Mariana e Inimizade aos Judeus
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Resenha de Livros (227)

Maria - Filha Sião?

Mariologia, Devoção Mariana e Inimizade aos Judeus

Johannes Heil/Rainer Kampling (editores), Maria - Tochter Sion? Mariologie, Marienfrömmigkeit und Judenfeindschaft [Maria - Filha Sião? Mariologia, Devoção Mariana e Inimizade aos Judeus], Paderborn, 2001. 271 páginas.

Trabalhos exegéticos e de história eclesial e teológica do tempo mais recente apresentaram a prova imperiosa de que o antijudaísmo eclesial não é sintoma concomitante na margem da Cristandade, mas que, desde o começo, foi ancorado profundamente, alcançando, daí, todos os conteúdos e formas da fé. Quem ainda tiver esperado que a mariologia e devoção mariana se teriam podido, como formas que servissem para a interioridade individual, antes apolítica e socialmente insignificante, manter-se livres do anti-judaísmo eclesial, estará sendo informado melhor pela aqui indicada coletânea, extensa e interdisciplinarmente organizada.

R. Kampling
mostra na contribuição de abertura como, no mais tarde no século 5, a mariologia se desenvolve, caindo nos debates e conflitos anti-judaicos. A relação tipológica, cedo vista, de Maria e a Igreja no quadro da eclesiologia que se estava desenvolvendo, favorecia a compatibilidade de “profunda veneração de Maria e anti-judaísmo vigoroso”. A exegese patrística já mostra claramente “ o anti-judaísmo pré-cunhado como horizonte de entendimento de escritos bíblicos” (33), assim que a judaicidade de Maria, inteiramente vista, não podia ser lembrada senão cada vez mais anti-judaicamente.

J. Heil
demonstra, no seu estudo de história de motivo referente Lc 2,34s. na literatura exegética e homilética da patrística à alta Idade Média, como a judia Maria, como mãe de Cristo e, com maior razão, como mater ecclesiae [mãe da Igreja] avançava ao cume da oposição contra os judeus. A partir do século 12, pode-se observar, na prosperidade da devoção mariana, como na poesia mariana nascente, sobretudo em realizações marianas teatrais próprias, textos apócrifos e de arte cheia de fantasia própria de configuração entram, deixando os textos bíblicos para trás. Essa inimizade aos judeus se construía em serviço dum antagonismo polarizante a sua imagem de judeu como respectiva imagem de contraste à Cristandade.

Matthias Theodor Kloft
mostra como, também na teologia da Idade Média alta, Maria, como a perfeição da sinagoga, deixa esta atrás de si, não podendo intermediar, senão entre judeus batizados e cristãos pagãos.

A historiadora de arte, Annette Weber, dedica a sua contribuição às representações na arte dos séculos 13 a 15, onde se mostra uma devoção mariana florescente numa divulgação extraordinária de legendas marianas, com feitos milagrosos da patroa, surgindo destas nas realizações teatrais místicas, em manuscritos iluminados, em janelas de vidro e em esculturas. Chega a ser claro como o desenvolvimento de novas formas de imagem para a devoção Mariana e revalorização dogmática de Maria na mariologia da Escolástica aprofundam ainda mais a imaginação dualista, aumentando, não somente a devoção mariana, mas também o ódio aos judeus.

Hans Martin Kirn
demonstra, na base de obras de sermão latinas e coleções de exemplos do fim da Idade Média, um potencial de agressão antijudaico, no qual Maria aparece como herdeira única dos bens de salvação antigotestamentários, como “mãe injuriada e desonrada de Israel, cuja misericórdia se transforma para maldição sobre as crianças que a arrenegam”, uma concepção que desacredita a tolerância social e a prática de privilégios das autoridades, atiçando uma ideologia de expulsão.

O germanista de Francoforte, Winfried Frey, investiga a “mãe de Jesus nos Mistérios da Paixão”. Mostra, como os expectadores estão sendo feitos cooperantes do acontecimento da Paixão e como, no sofrer juntos de Jesus e Maria, pretende-se uma representação, a qual então também atinge os judeus contemporâneos sensivelmente. Os efeitos de linguagem emocionalizada e agressiva no Mistério da Paixão se provam nas destruições de sinagogas e a transformação destas em igrejas e capelas marianas nesse tempo.

Wolfgang Glüber
demonstra em 16 lugares como aí, em honra de Maria, quarteirões de judeus e sinagogas foram destruídos e legitimados como castigo justo pelo assassínio judaico de Deus, e como as igrejas consagradas à “bela Maria” são vistas como indenização pela mãe do Senhor desonrada pelos judeus.

A historiadora de arte, Michela Haibl, constrói, na arte dos nazarenos, “cifras do antijudaico” além dos estereótipos antijudaicos tradicionais. Maria chega a ser sinal dum mundo desjudaizado. A exigência por uma arte renovada alemã nacional elimina o não-alemão, o que levou a uma cristianização iconográfica também do Antigo Testamento.

Vitória Pollmann
investiga o culto mariano e a inimizade aos judeus na imprensa católica polonesa antes de 1939, mostrando como, pelo papel integrativo do catolicismo polonês, nasce um aperfeiçoamento paralitúrgico em leque amplo da veneração Mariana, no qual o judeu chega a ser o alheio, o traidor potencial, o, na melhor, hospede tolerado.

Franz-Josef Bäumer
, finalmente, constata, nos sermões, livros de devoção e de oração marianos, da literatura catequética dos anos do decênio 3 do século 20 na Alemanha, pensamento conservativo de direita e anti-democrático com convergências assombrosas na imagem da mulher de católicos e nazistas. O antijudaísmo clássico teria feito com que o anti-semitismo racista chegasse a se apresentar bem. Assim, também a devoção Mariana teria contribuído para a tolerância silenciosa, se não aceitação, da inimizade nazista aos judeus, feito os católicos acríticos e sem resistência.

“Nenhuma outra mulher tem cunhado, através da força da sua simbólica, o crer, pensar e sentir da Cristandade ocidental mais determinante e eficazmente que Maria” (Klaus Schreiner). Mas na relação cristão-judaica, a sua pessoa despertava litígio mortífero, numa aliança de devoção mariana e inimizade aos judeus - este é o resultado assustador e amargo da leitura.

Herbert Jochum, Illingen


Tradução do alemão: Pedro von Werden SJ
 


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